Quando alguém diz "Eu não tenho estômago pra isso...", geralmente está se referindo a alguma coisa ou situação muito feia, desagradável ou repugnante. O primeiro sinal de que algo errado está acontecendo é aquela sensação de enjôo e de que tudo está revirando por dentro, querendo sair a qualquer custo o mais urgente possível, sob o risco de haver uma explosão. Às vezes a sensação é puramente psicológica e a expressão ganha o sentido figurado, mas você sente o desconforto de uma forma tão real e evidente que nada nem ninguém será capaz de demover você da ideia de que é o seu estômago quem está passando a comandar as ações.
Pois eu vou dizer uma coisa pra vocês: eu não tenho mais estômago para esse clima de terror e violência instalado por toda a região metropolitana de São Paulo, com a bandidagem tomando conta da vida das pessoas de uma forma antes nunca vista. Antigamente o risco era de quem precisava chegar tarde da noite em casa, vindo da escola ou do trabalho. Ruas escuras e desertas eram um convite para o ataque dos criminosos, preferencialmente contra pessoas que ostentassem algum bem de valor. Atualmente não existe hora que não ofereça perigo e iminente risco de vida.
Leis obsoletas, autoridades omissas e tolerantes, polícia mal remunerada e desmotivada, sistema carcerário em estado de penúria moral e material, completamente falido e sucateado, comandado por facções criminosas que mandam e desmandam, além da consciência da impunidade por parte de menores infratores, tudo conspira contra o cidadão comum e de bem, que cada vez mais sente-se inseguro e desprotegido, sem ter a quem recorrer.
Aí chega o insosso, insípido e inodoro governador do Estado, sinalizando com ridículos números de pesquisa alardeando que as taxas de criminalidade estão em declínio, que o número de latrocínios caiu em não sei quantos por cento, que os assassinatos por arma de fogo diminuíram tantos por cento, transformando vítimas e famílias em números e meros dados estatísticos, esquecendo de que para quem já está morto a pesquisa não tem mais a menor importância.
É por isso que quando digo que não tenho mais estômago, quero dizer que também não tenho mais cérebro, pulmões, fígado, pâncreas, intestinos, vesícula e tudo o mais que se enquadre no plano da musculatura lisa, uma vez que são os primeiros tecidos do corpo humano a se romper ou dilacerar, diante do impacto ou perfuração causados por qualquer tiro ou facada, venham eles de onde vierem...
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