Quando a gente menos percebe o tempo passou, os anos correram com uma celeridade absurda e os dias, então, sucederam-se numa velocidade vertiginosa.
Ocupados demais com os afazeres e compromissos, boa parte da vida escapou por entre os dedos, os mesmos dedos que mês após mês foram arrancando uma a uma as páginas do calendário, como se o controle da existência se resumisse no findar dos números da folhinha, que assinalam o transcurso do inevitável transcurso.
Mesmo os momentos de lazer, de alegria e descontração ficaram espremidos entre os dias e as horas, sem que se desse conta do quanto eles seriam preciosos não como lembranças, mas por experiências efetivamente vividas.
E assim o tempo foi transcorrendo, sem que se desse conta, de sua relevância, até que os primeiros sinais começaram a aparecer, sinais esses evidenciados pelo sistema mais preciso e precioso, ao qual poucos se dignam a darlhe a atenção devida.
Estou falando do nosso corpo, que à semelhança de uma máquina estupendamente construída não tem garantia de vida eterna e começa a apresentar desgastes a comprometer seu desempenho e funcionamento.
Após sete décadas de existência, tenho plena consciência de estar mais próximo do fim do que do começo. A sequência de alterações e distúrbios torna o existir um fardo cada vez mais pesado, exigindo um esforço quase impossível de ser realizado.
Todavia, o transtorno maior não é aquele ao qual é submetido o já fragilizado corpo físico. O que ocorre no plano mental passa a ser o grande suplício, pois se desconhece de que forma o fim se dará. Será por acaso muito doloroso ? Quanto tempo irá durar ? Haverá alguém a nos fazer companhia nesse momento ?
Infelizmente são perguntas sem respostas, restando apenas o martírio da incógnita, que jamais será esclarecida até o findar do universo, fato que nós, simples mortais, jamais teremos compreensão...