segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A Copa padrão FIFA e o seu legado

Dia desses, por intermédio de um amigo cujo nome manterei evidentemente no mais absoluto sigilo, tive acesso a um secretíssimo dossiê da FIFA, onde se encontram relacionadas novas exigências e informações confidenciais a respeito de cada um dos doze estádios que receberão os jogos da próxima Copa do Mundo.

Fora a repercussão que o campeonato obterá em todo o planeta, para o brasileiro comum, aquele que irá pagar sabe-se lá quanto e até quando a conta com as obras e a organização do evento, o fato mais relevante será o famigerado "legado da Copa", usado abundantemente nos últimos dez anos como argumento político para viabilizar o torneio em terras brasilis.

Para cada estádio e sede, foram estipuladas rigorosas orientações e normas de procedimento, onde a entidade futebolística mundial procurou adequar ao máximo suas exigências, tornando-as compatíveis com o perfil da cidade e da população local. Assim, passo a relacionar o que o torcedor nacional ou estrangeiro irá encontrar em cada uma das sedes do Mundial, caso tenha a hipotética chance de adquirir um ingresso, por obra e graça do seu santo de plantão e devoção.

Manaus - Em plena selva amazônica, os torcedores deverão chegar e sair do estádio em barcos, canoas ou pirogas, a maioria provida de radares anti-tocos de profundidade, como medida preventiva aos habituais naufrágios que ocorrem com regularidade na região. Jacarés, piranhas e manifestações indígenas serão mantidos à distância, mediante uso de poderosos repelentes químicos de última geração.

Fortaleza - Torneiras deverão jorrar água de côco ou mineral geladinha, à escolha do torcedor, observando a temperatura ambiente e a posição incidente do sol nordestino durante as partidas. Inédita proteção anti-baratas será aplicada por meio de exibições de xaxado, que acontecerão na véspera e nos dias de jogos. Originais e confortáveis apoios para cabeça, com 1 metro de diâmetro cada, serão o grande legado para a torcida cearense assistir no futuro aos jogos dos times locais de sua preferência.

Natal - Para facilitar a circulação no estádio, sobretudo na hora da entrada, o acesso do torcedor será por meio de rampas de finíssima areia higienizada e, à semelhança do ambiente das dunas, mediante uso do popular meio de locomoção local, o esqui-bunda. O torcedor que não seja potiguar terá a opção de retornar ao seu país de origem por meio de foguetes e ônibus espaciais, que serão lançados rigorosamente um a cada 15 minutos do Terminal Barreira do Inferno.

Recife - Aqui o sol não será problema, com a distribuição gratuita de sombrinhas para abrigar os torcedores, que no final dos jogos poderá usar o equipamento para sair dançando frevo no caso de vitória da sua seleção. Alem da numeração em cada assento, cada torcedor terá direito a um enorme e feroz caranguejo, devidamente adestrado para tascar o ferrão na bunda de quem se arriscar a ocupar indevidamente lugar que não seja o previamente adquirido.

Salvador - Tem tudo para ser o mais confortável de todos os estádios, uma vez que os torcedores poderão assistir aos jogos deitados em redes e à sombra do seu coqueiro particular, adquirido juntamente com o ingresso. Presença já assegurada de baianas vendendo vatapá, acarejé e munguzá em tabuleiros circulantes até mesmo nas arquibancadas, aceitando o pagamento através de cartões de crédito ou débitos. Na entrada do estádio, mães-de-santo especialmente contratadas para esse fim, poderão jogar búzios e assim prever o resultado das partidas e as seleções com maiores chances de classificação e consequente conquista do título.

Cuiabá - Cidade musical rural por excelência, promoverá antes e no intervalo dos jogos shows com duplas sertanejas locais, que organizadamente permanecerão em filas de no máximo 500 metros, aguardando o momento de suas apresentações. Enquanto esperam a vez, alegrarão o ambiente com maviosos solos de berrante.

Brasília - A FIFA manifesta sua preocupação de que talvez não seja possível a realização de jogos nesta cidade. Existe uma clara e altíssima taxa de risco que isso ocorra, em função dos rumores de um possível roubo do próprio estádio - prática bastante comum por parte da perigosa população flutuante da capital, organizada em quadrilhas denominadas "partidos" e normalmente concentrada nas dependências da Câmara e no Senado. Por enquanto discute-se a aplicação de um plano B, que consistiria na devolução do valor dos ingressos já vendidos, condicionada à reintegração ao patrimônio público do dinheiro desviado mensalmente pelos membros do governo e da sua base de apoio ao longo da administração federal anterior.

Belo Horizonte - Será o único estádio da Copa a ter sua própria bola temática, a Queijuca, em formato de pão de queijo. Como sempre, os mineiros permanecem extremamente desconfiados e até o momento não revelaram nada dos seus preparativos. Portanto, seguem completamente desconhecidas e envoltas em denso mistério quais serão as atrações mineiras que ocorrerão durante a Copa, tornando-se impossível saber o que mais está sendo preparado para a população local e a visitante, além das porções de tropeirinho que serão vendidas nas imediações do Mineirão. 

Rio de Janeiro - A FIFA exigiu e o novo Maraca já está dotado de confortáveis assentos individuais com vidros à prova de balas perdidas e a presença vigilante da Guarda Nacional para assegurar proibição da perigosa torcida do Vasco aproximar-se a menos de 3 km do estádio. Apesar do forte aparato de fiscalização, será praticamente impossível controlar o jeito folgado dos cariocas, acostumados a olhar para cada turista estrangeiro e nele ver uma oportunidade de passar-lhe a perna, a fim de levantar um troco às custas do incauto visitante, por eles desdenhosamente chamados de "manés".

Curitiba - A capital das araucárias deverá promover a distribuição gratuita de partituras, para permitir que as torcidas visitantes entendam o dialeto e acompanhem a fala cantada da população local. Crachás de identificação serão providenciados e de uso obrigatório por parte de cada torcedor, uma vez que por um hábito secular o paranaense não fala com pessoas estranhas de jeito nenhum.

Porto Alegre - A arena será inteiramente provida de assentos dotados de churrasqueiras e encanamento de água quente para o preparo de uma bebida típica dos pampas, uma infusão marrom esverdeada chamada chimarrão. Em estágio final de montagem, o estádio contará com uma exclusiva arquibancada com assentos duplos e privativos, reservados especialmente para casais gays, além da ousadíssima e revolucionária "Rampa da Avalanche Todo Mundo Pelado". Garantem os gaúchos que para eles estes serão, sem dúvida, os dois maiores legados da Copa. 

São Paulo - Coerente com o seu tradicional bundamolismo, o governo estadual ainda não se manifestou publicamente, porém por exigência da FIFA, acha-se prevista em dias de jogos da Copa a presença de uma escolta armada feita pelas polícias civil e militar, para "tentar" garantir um mínimo de segurança ao torcedor, na chegada e posterior saída da zona Leste. Os torcedores que se envolverem em brigas ou confusões serão trancafiados em conteiners, provisoriamente transformados em celas de 30 metros quadrados e capacidade para até 150 detidos, com julgamento sumário e pena inicial prevista de ouvir ininterruptamente, por um mínimo de 48 horas, apresentações de rappers e funkeiros arregimentados junto às comunidades e conjuntos habitacionais invadidos da região. Postos móveis do IML serão estrategicamente instalados a cada 200 metros, a fim de facilitar e agilizar autópsias e o reconhecimento de corpos das vítimas baleadas durante a Copa naquela pitoresca e aprazível região da cidade.

Como se vê, tudo foi ou está sendo minuciosamente planejado para que este campeonato mundial de futebol entre para a história como "A Copa que parecia impossível". Há os que prefiram como slogan "A Copa com jeitinho brasileiro", mas estes já estão quase conformados de que serão voto vencido...

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Reinos e reinados...


Não sei bem se ouvi de alguém ou li em qualquer lugar, mas o fato é que o comentário era sobre o rei Edward VII da Inglaterra, que preferiu abdicar do trono para se casar com a americana Wallis Simpson, divorciada e plebéia até o último fio de cabelo. Aliás, esse episódio verídico, que sacudiu os bastidores da realeza britânica na primeira metade do século XX acabou recentemente se transformando em filme de sucesso. Uma história que fez na época muita mocinha casadoira suspirar de inveja e maldizer sua condição de encalhada. Quem deve ter gostado disso foi a Rainha Elisabeth II, essa mesma vovó do Príncipe William: com a renúncia de Edward, quem assumiu foi o Rei George VI, que ao morrer permitiu à jovem princesa sair do banco de reservas e sentar no trono.
Muitos e muitos séculos antes, também na Inglaterra, Shakespeare tomou para si a voz do rei na peça Ricardo III e fez com que Sua Majestade, um sujeito que semeou crueldade em tudo quanto é lugar que pisou, bradasse a plenos pulmões antes de ser derrotado na batalha de Bosworth, vencida pelo conde de Richmond: "Meu reino por um cavalo!".
Quis com isso fazer a galera acreditar que só perdeu a escaramuça porque estava a pé. Dá a impressão que já naquela época os caras arranjavam desculpas esfarrapadas pelos seus fracassos, antecedendo o que certos pilotos de Fórmula 1 fazem atualmente, botando a culpa no câmbio, nos pneus, na pista, no vento, etc.
Mas não tergiversemos. Tá certo que as situações foram bem diferentes entre si, mas servem para ilustrar como de repente o poder, a dominação e a riqueza passam para segundo plano quando um valor mais alto - ou interessante - se alevanta...
Nem pensar em colocar em discussão, por exemplo, o reinado de Momo. Ele sabe que seu mandato expira ao final dos quatro dias de Carnaval e por isso faz de tudo para aproveitar ao máximo cada momento e saborear as glórias de ser saudado e reverenciado por onde quer que passe. Fora a inveja de todos os súditos cuecas, que babam só de olhar a corte do monarca gorducho, formada em sua maioria por gostosíssimas mulatas.
E como atualmente esse negócio de reinado anda meio em baixa, sobram expressões desdenhosas por parte daqueles e daquelas que acham super legal dar uma de bacaninha, principalmente quando estão numa roda de conhecidos e querem impressionar. O garotão bombado e totalmente vazio de conteúdo é capaz de dizer: "Um pedaço do meu bilau por mais uns 100 cavalos no motor da minha barata!", referindo-se ao próprio carro.
A gatinha fútil e superficial, que tem no GPS da cabeça a rota de todos os shoppings da cidade, vai querer mostrar sua total indiferença pelo romantismo e desprezo pelo sexo oposto, detonando: "Muito babaca pro meu gosto. Onde já se viu entregar um trono assim, de bandeja? Ainda mais por causa de uma periguete qualquer... Aff!"
E assim caminha a humanidade, fazer o que...

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Que fase!...

Geralmente a vida do homem pode ser dimensionada em fases, todas elas bem distintas entre si. Assim, a fase que vai até os 10 anos é aquela onde o garoto sonha em ser um super-herói, com poderes mágicos e sobrenaturais para vencer todos os inimigos e monstros que lhe surjam pela frente. Geralmente o estímulo e subsídios provém dos seus próprios pais, isso quando tem a sorte de ter pai e mãe vivendo juntos pelo absurdo período de dez anos...
Dos 10 aos 20 anos, ele vive o sonho de ser alguém muito famoso, como por exemplo um jogador de futebol ou tocando numa banda de sucesso, com muitas fãs correndo atrás e pedindo autógrafos. Quando não consegue, é nessa fase que hamburguers, batata frita, refrigerante e quetais fazem estragos definitivos, seja em sua saúde, seja em sua personalidade.
Entre 20 e 30 anos, o rapaz quer mais é comer tudo que tenha duas pernas, principalmente quem usa shortinhos, microvestidos e sapato de saltão. Acredita que a droga e/ou a bebida podem ajudar no processo de conquista e com isso não entendem por que nem toda mulher não os ache irresistíveis.
A fase entre 30 e 40 é dedicada à sua consolidação econômico-financeira, onde o elemento busca definir-se profissionalmente, de maneira a ocupar postos de mando e comando, ainda que para isso tenha de valer-se de recursos nem sempre marcados pela ética e pela moral, justificando-se por trás do jargão "quem está na minha frente, eu atropelo!"
De 40 a 50, o cidadão passa a refletir se foi certo tudo o que fez até então, arrependendo-se por não ter aproveitado ou percebido as oportunidades que a vida colocou diante de si. Talvez por isso seja a faixa etária onde ocorram mais divórcios e se caracterize pela "busca do tempo perdido", pois sabe que já passou da metade do caminho e talvez não apareçam novas chances a serem aproveitadas.
O homem entre 50 e 60 anos é um reflexo de tudo aquilo que ele fez por sí próprio ao longo da vida. Se cuidou bem do seu corpo, terá menos problemas de saúde do que aquele que não se importou em cultivar bons hábitos. Se manteve uma boa relação familiar, terá mais estímulo e disposição para desfrutar de suas conquistas. Profissionalmente, terá de volta aquilo que plantou ou que deixou de plantar.
Após os 60 e até os 70 anos, a luta será contra as moléstias, das quais quem escapa pode ser considerado exceção. Problemas cardíacos, circulatórios, osteoarticulares, câncer, diabetes, todo um bando de urubús-doenças passa a fazer parte da rotina do cidadão, consumindo boa parte de seus rendimentos entre tratamentos, remédios e similares.
Depois dos 70 - e aí nem arrisco a prever as fases posteriores - é a fase da sobrevivência pura e simples. Raríssimos serão os motivos de alegria e os prazeres permitidos. A maior parte dos parentes e amigos de outrora já terão morrido ou tem paradeiro ignorado, a família já se desfez em busca de seus interesses individuais. O sujeito que conseguir passar por esta fase, terá sorte se conseguir reunir algumas boas almas que conduzam seu caixão até a última morada, definitiva, eterna...