quinta-feira, 16 de maio de 2013

Salve, George!


Conheci o Jorge quando ele tinha uns dez ou onze anos, mais ou menos a mesma idade que eu na época. Nossa amizade começou meio por acaso: a pelada na rua estava pra começar e a turma já tinha até escolhido os dois times quando viram que um lado estava com um jogador a mais do que o outro. Para o garoto magro e franzino que espiava de longe, encostado no muro, olhar tímido, bastou um gesto pra ele se aproximar, ansioso para entrar no jogo e se enturmar. Pude notar sua alegria e um esboço de sorriso quando eu falei: "O magrinho fica no nosso time!"
Quando acabou a pelada, cheguei perto do magrinho e perguntei o seu nome "Jorge", respondeu. "Mudei ontem pra cá. Posso vir jogar outras vezes com vocês?" "Claro, Jorge, a galera gostou do jeito que você toca fácil, vai ter sempre lugar pra você bater uma bolinha com a gente." "Legal, então." disse Jorge. "Também tô aprendendo a tocar guitarra, ganhei uma da minha avó! Se quiser, pode ir lá em casa escutar. Só que ainda não sou muito bom, mas garanto que vou ficar!", disse rindo.
E foi assim que eu e o Jorge nos tornamos grandes amigos. Eu diria que éramos quase inseparáveis e de tanto a gente andar junto e ser um pouco parecidos, tinha até quem pensasse que ele era meu irmão. Nossa amizade com o tempo se fortaleceu e conforme prometera, o Jorge levou a sério os estudos de música e acabou ficando o maior fera na guitarra. Dava gosto ouvir os riffs que ele tirava com extrema facilidade.
Um dia ele chegou lá em casa e me falou, meio chateado "Cara, tô mudando! Vou morar em outro país, acho que vai ser difícil a gente se trombar de novo, mas quero te dizer que você foi meu melhor amigo, você vai estar sempre aqui, ó..." e bateu no lado esquerdo do peito. Demos um abraço de irmãos, e nos despedimos, prometendo sempre mandar notícias um para o outro.
Jorge cumpriu sua promessa. Volta e meia postava fotos e mensagens pela internet, chegou a me ligar algumas vezes, dizendo que agora viajava muito porque tinha se tornado músico profissional. Fazia parte de uma banda que estava dando super certo, junto com uns carinhas muito legais e talentosos. Fiquei muito contente com o sucesso do Jorge e sua banda, acompanhando na medida do possível a sua carreira.
Nossos contatos foram ficando cada vez mais esparsos, até que um dia, ao pegar minha correspondência com o carteiro, recebi um pequeno estojo contendo um CD e uma carta, cujo remetente era o meu amigo Jorge. Comecei a ler ali mesmo, no portão e entre várias notícias sobre a carreira, ele contava sobre como sua vida tinha se transformado desde a época que a gente era garoto e jogava bola na rua. Pedia pra eu ouvir e dizer o que achava das quatro músicas que ele tinha gravado especialmente para mim no CD que tinha vindo junto com a carta. Dizia também que o João, o Paulo e o Ricardinho, seus parceiros na banda, sabendo da minha amizade com ele, também me mandavam abraços.
Entrei em casa, liguei o som e me deliciei com as músicas que o Jorge me mandara. Ouvi todas por diversas vezes, impressionado com aquele estilo até certo ponto místico de rock. Gostei muito, demais mesmo de "He comes the sun" e "My sweet Lord", embora minhas favoritas até hoje continuem sendo "While my guitar gently seeps" e "Something"...

4 comentários:

  1. Que lindo Ado. Pode falar que ficou delicado, mesmo sendo homem o autor? Rsrs...

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  2. Obgd, Dri. Como vc deve ter notado,aqui o autor também é um personagem...

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