terça-feira, 14 de maio de 2013

Cabeça de área


Não é por nada não, mas no futebol quem devia merecer e ser visto com um pouco mais de consideração é o zagueiro central. Antigamente a gente via a escalação de um time e sabia logo quem era o zagueiro central, figura predominante na defesa, que tinha no quarto zagueiro apenas um fiel ordenança, um ajudante sempre a postos para fazer a cobertura, caso algum atacante se metesse a besta de tentar entrar na área com a bola dominada. Aliás, essa é uma das prováveis hipóteses para o surgimento da endeusada tabelinha. Além do tranco salvador, via de regra era tarefa do zagueiro central a honrosa tarefa de levantar cada taça conquistada, pois nada mais imponente nessa hora do que o próprio zagueiro central também acumular as funções de capitão do time.
Com a evolução (?) tática do futebol, aumentou a correria em campo e com ela o temor do zagueiro central de ser superado na arrancada pelo atacante velocista, que pegando a bola no meio de campo, costuma disparar feito um raio contra a meta adversária, só parando depois de estufar as redes. Ou então depois de levar na boca uma cotovelada nem sempre bem disfarçada, cartão de visita só pra saber quem é que manda de verdade naquela região do campo.
Apesar de não desfrutar do mesmo prestígio dos meio-campistas e dos atacantes artilheiros, na maioria das vezes o bicho por vitória ou empate é garantido pelo zagueiro central. Um puxãozinho de camisa aqui, um totó na canela durante um escanteio ali, uma cusparada intimidadora na reposição de bola e assim vai o zagueiro levando sua vida sofrida, nem sempre recompensada à altura.
Porém, de todas as vicissitudes enfrentadas pelo zagueiro, a pior de todas ocorre quando uma falta é cometida defronte à grande área e cabe a ele a perigosa tarefa de ser o homem do meio na barreira. Tive vários amigos que desistiram da prática futebolística depois de levarem uma bolada na região onde só quem é homem sabe o quanto dói uma saudade. Bolada no saco provoca uma dor tão intensa que é capaz de levar o atleta a repensar a sua própria condição humana, de uma forma quase filosófica.
Como se vê, vida de zagueiro não é nada fácil. Assim, quando seu time entrar em campo, reserve um aplauso a mais para essa figura indevidamente menos valorizada. E dependendo do resultado do jogo, sinta-se à vontade para entre uma mordida no sanduíche de pernil e um gole na cerveja, comentar na saída do estádio: "Também, com uma zaga dessas, a gente tinha mesmo é que tomar no rabo..."

3 comentários:

  1. Texto bem escrito e criativo. Não entendo de futebol. Imagino o quanto é prazeroso fazer o que gosta. Correr atrás da bola e defender o seu time tem seu momento de glamour e as vezes essas inconveniências, levar uma bolada bem lá, rsrsrs.... Mas são ossos do ofício! Bjo Ado

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  2. Verdade!!!! O numero 3 era tão importante quanto o 10 no time

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    1. Perdoe a demora no retorno, só hoje estou colocando a caixa postal em dia. De fato, cabia sempre ao central a tarefa de comandar a defesa, com raça, garra e determinação. Talvez por isso tenham passado por aqui grandes zagueiros uruguaios e argentinos, que entram em campo como se fossem pra guerra...
      Obgd, amigão, apareça mais vezes, sua visita será uma grande alegria. Abs.

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