sexta-feira, 3 de maio de 2013

Vamos a la playa...


Pode ser até que exista, mas eu não conheço ninguém que goste mais de praia do que a Lucinda. Vocês acreditam que ela é tão fanática por praia que a decoração do salão de beleza que ela montou é todinho decorado com temas litorâneos?
É um tanto de pôsters e painéis com imagens de estrelas do mar, de conchinhas, de ondas, de guarda-sóis e banhistas que chega até a confundir a vista, dando a impressão que o salão foi montado bem ao estilo pé na areia. Mesmo depois de sofrer três decepções amorosas seguidas, a Lucinda consegue programar sua depressão para durar até o começo do verão, quando a praia passa a ser sua grande razão de viver.
Quando diz que precisa comprar biquinis novos, a Lucinda nem pensa nas três gavetas repletas dessas graciosas peças de banho que ela guarda carinhosamente como lembrança de momentos felizes, alguns segundo ela inesquecíveis, vividos em verões passados.
Por essas e outras a Lucinda vibrou de alegria quando ouviu a moça do tempo dizer na TV que o tempo no fim de semana estaria perfeito para curtir uma praia. Mais contente ainda ela ficou quando suas melhores amigas, Lurdinha e Kelly, toparam passar um dia inteirinho na praia. Mas tem que chegar bem cedo e sair só quando escurecer, pra aproveitar bastante, determinou a Lucinda.
No sábado o salão da Lucinda funcionou até muito tarde atendendo todas as clientes habituais, que era para deixar o domingo inteirinho livre, só pra curtir a praia junto com as amigas. Pra não perder tempo pela manhã, Lucinda convenceu Lurdinha e Kelly a dormirem na sua casa.
O domingo ainda nem havia clareado direito e lá estavam as três, no ponto de ônibus, antecipando ansiosas como o dia seria maravilhoso. Já no ônibus repassavam o conteúdo das sacolas de praia, checklistando item por item: toalhas, esteira dobrável, óleos, cremes e soluções protetoras, óculos de sol, celular, documentos, dinheiro... bem, tudo aquilo que as mulheres acham indispensável levar numa sacola de praia.
Chegaram, escolheram um lugar estratégico perto de um quiosque - a bebida não pode ficar longe - e do essencial chuveiro de água doce. Devidamente instaladas, as amigas só pensavam em curtir o sol, o mar e quem sabe algum bonitão dando sopa.
Manhã perfeita, mar perfeito, praia perfeita. Depois de um rápido mergulho, as três amigas, já relaxadas pela terceira caipirinha, dormitavam sob o sol do fim da manhã quando se ouviu, à distância, um alarido muito parecido com o de uma torcida comemorando um gol. O alarido foi aumentando, aumentando e quando Lucinda ergue o corpo para ver do que se tratava, sente uma espécie de choque, enxerga um clarão que vai escurecendo, até ela não ver mais nada.
Aos poucos ela começa a perceber, primeiro umas imagens desfocadas, depois outras mais nítidas e finalmente descobre que está deitada num leito de hospital, sendo atendida por uma enfermeira de meia idade que lhe aplica uma injeção intravenosa.
O que me aconteceu, pergunta Lucinda. A enfermeira, com cara cansada e de poucos amigos, responde que Lucinda foi vítima de um arrastão na praia e trazida ao hospital pelo Resgate, com suspeita de traumatismo craniano.
Mas a que hora foi isso, onde estão minhas amigas Lurdinha e Kelly, elas estão bem? pergunta Lucinda. Devem estar, pois já vieram visitar você pelo menos umas quatro vezes cada uma. Me visitar? Quatro vezes? Como assim, a gente estava juntas na praia hoje de manhã? pergunta Lucinda aflita e sem entender direito o que estava se passando com ela.
Moça, fique calma, você está aqui internada há dois meses, em estado de coma profundo. Teve muita sorte em ser atendida pela melhor equipe de neurocirurgiões deste hospital e provavelmente ainda ficará algumas semanas por aqui, em tratamento e observação. Com licença, se precisar de alguma coisa é só chamar.
Lucinda, ainda confusa e sob o impacto da revelação, olha ora para o teto do quarto, ora para as nuvens brancas que passam pela janela. E antes mesmo de se dar conta de qual seria seu real estado de saúde, só consegue pensar: dois meses e eu aqui, sabe-se lá até quando. É, não tem jeito, parece que este verão está mesmo perdido...

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